Funções no organismo
A vitamina K é importante para a síntese e função de vários fatores envolvidos na coagulação , assim como para a produção de tecido ósseo1.
Esta vitamina é essencial para a síntese da protrombina, uma proteína que converte o fibrinogénio solúvel em circulação no sangue numa proteína bastante insolúvel chamada fibrina , o componente principal de um coágulo sanguíneo3.
A vitamina K contribui assim para a normal coagulação do sangue e para a manutenção de ossos normais4.
Fontes de vitamina K
Os alimentos mais ricos em vitamina K são os vegetais de folha verde (espinafres, brócolos, couves de bruxelas, espargos, etc.). Pode ser encontrada também em menores quantidades nas batatas, cenouras e carne1,2,5.
Alimento | Conteúdo em vitamina K |
Espinafres |
266 µg/ 100g |
Couve-flor |
191 µg/100g |
Brócolos |
154 µg/100g |
Couve |
149 µg/100g |
Alface |
113 µg/100g |
Espargos |
39 µg/ 100g |
Cenouras |
13 µg/ 100g |
Batata doce |
4 µg/100g |
Carne de vaca |
0,6 µg/100g |
Fonte: Adaptado de Gerald F. Combs, Jr. The Vitamins Fundamental aspects in nutrition and health. Third edition. Elsevier AP. 20086
Estabilidade
A vitamina K1, filoquinona, é degradada lentamente pelo oxigénio e mais rapidamente pela luminosidade. É estável ao calor mas degrada-se na presença de bases5.
Carência em vitamina K
A carência em vitamina K é rara uma vez que esta vitamina está presente em diversos alimentos e as bactérias intestinais têm a capacidade de a produzir. No entanto, nos casos em que ocorre, pode resultar da diminuição no consumo das fontes alimentares que a contêm, diminuição da síntese pelas bactérias intestinais ou problemas na sua absorção (ex. patologias digestivas crónicas como a doença de Crohn ou doença celíaca )1.
No caso dos recém-nascidos, uma vez que o transporte de vitamina K através da placenta é reduzido, não têm bactérias intestinais produtoras de vitamina K e também não recebem vitamina K suficiente através do leite materno, existe um risco acrescido de carência nesta vitamina. Para evitar os efeitos secundários associados (que podem incluir hemorragia intracraniana), é recomendada a administração intramuscular de vitamina K1 no nascimento1,2,7.
A deficiência em vitamina K é considerada clinicamente relevante quando o tempo de protrombina aumenta significativamente, devido à diminuição da atividade da protrombina no sangue1.
Os sinais e sintomas de carência nesta vitamina caracterizam-se por hemorragias, mais concretamente: hemorragias nasais, gengivas a sangrar, sangue na urina, sangue nas fezes, fezes negras, ou fluxo menstrual mais abundante2.
Uma vez que a vitamina K também é necessária para a carboxilação da osteocalcina no tecido ósseo, a sua deficiência pode reduzir a mineralização óssea e contribuir para a osteoporose1.
Valor de Referência do Nutriente (VRN)1
|
Idade |
Masculino (µg/dia) |
Feminino (µg/dia) |
Lactentes |
0-6 meses* |
2 |
2 |
7-12 meses* |
2.5 |
2.5 |
|
Crianças |
1-3 anos |
30 |
30 |
4-8 anos |
55 |
55 |
|
9-13 anos |
60 |
60 |
|
Adolescentes |
14-18 anos |
75 |
75 |
Adultos |
19 anos ou mais |
120 |
90 |
Grávidas |
Até aos 18 anos |
- |
75 |
19 anos ou mais |
- |
90 |
|
Mulheres a amamentar |
Até aos 18 anos |
- |
75 |
19 anos ou mais |
- |
90 |
* IA: ingestão adequada: não existem estudos que permitam estabelecer o VRN, mas estes valores garantem uma nutrição adequada.
Utilidade terapêutica
Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde) deve ser administrado 1 mg de vitamina K por via intramuscular a todos os recém-nascidos quando nascem, após a primeira hora durante a qual o bebé deve estar em contacto pele a pele com a mãe e a amamentação deve ser iniciada. Os recém-nascidos que necessitam de procedimentos cirúrgicos, recém-nascidos prematuros e aqueles que se sabe que estiveram expostos a medicação materna que interfere com a vitamina K, têm maior risco de hemorragia e por isso deve-lhes ser dada vitamina K8.
Sabe-se que a vitamina K é um cofator na carboxilação de várias proteínas , incluindo a osteocalcina , uma das principais proteínas do osso. Assim, no Japão e algumas partes de Ásia, é utilizada uma dose de 45mg de menaquinona (MK-4) para o tratamento da osteoporose1.
A vitamina K também é utilizada para reverter o efeito anticoagulante da varfarina . A varfarina é um fármaco anticoagulante com uma margem terapêutica estreita, que apresenta muitas interações com alimentos e outros medicamentos e tem um início de ação lento. Por todas estas razões, é preciso uma monitorização dos doentes que tomam este medicamento bem como um ajuste periódico de doses. Quando existem hemorragias em doentes a tomar varfarina , dependendo do valor de INR (índice que mostra o estado de coagulação do sangue) e da gravidade da hemorragia, opta-se pela administração de vitamina K pela via oral ou intravenosa9,10.
Precauções
Não são conhecidos casos de toxicidade associados a doses elevadas de vitamina K (nas formas K1 e K2). No entanto relativamente à forma sintética K3 pode existir interferência com a função da glutationa , o que pode resultar em stress oxidativo nas membranas celulares. Quando esta vitamina é utilizada através de injeção pode induzir toxicidade hepática, icterícia ou anemia hemolítica 2.
A vitamina K bloqueia a ação de alguns medicamentos usados em terapêuticas anticoagulantes (ex. varfarina ), podendo comprometer a sua eficácia. Assim, doentes a tomar estes medicamentos não devem tomar suplementos que contenham vitamina K ou comer alimentos muito ricos nesta vitamina1,2.
Os antibióticos de largo espectro (principalmente as cefalosporinas) podem conduzir a uma redução dos níveis de vitamina K ao eliminar uma grande quantidade de bactérias intestinais, uma fonte importante desta vitamina1,5.
O orlistato e a colestiramina podem reduzir a absorção da vitamina K1.
A fenitoína interfere com a capacidade do organismo utilizar a vitamina K e por isso quando utilizado durante a gravidez ou amamentação pode reduzir os níveis desta vitamina nos recém-nascidos7.
Doses elevadas de vitamina A e E antagonizam a vitamina K, uma vez que a vitamina A interfere com a absorção de vitamina K enquanto a vitamina E pode interferir com a cascata de coagulação 2.
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1929 - Foi identificada pela primeira vez a existência de um fator anti-hemorrágico nos alimentos. Nesta época H. Dam procedeu a um estudo em galinhas em que suprimia os lípidos da sua alimentação. Constatou que as aves apresentavam hemorragias em vários órgãos.
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1935 - Considerando que a ausência do fator alimentar era responsável pelas hemorragias e alterações na coagulação , H. Dam dá-lhe o nome de vitamina da coagulação ou simplesmente vitamina K. No mesmo ano, dois outros cientistas constatam que estes problemas de coagulação podem ser tratados com óleo de luzerna (também denominada alfafa – uma planta da família das leguminosas).
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1936 - H. Dam isola a vitamina K a partir da luzerna.
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1943 - H. Dam e E. A. Doisy ganham o prémio Nobel da medicina pela descoberta da vitamina K, fator de coagulação , e sua estrutura química.
- https://ods.od.nih.gov/factsheets/VitaminK-HealthProfessional/- National Institutes of Health. 2016
- http://lpi.oregonstate.edu/mic/vitamins/vitamin-K- Linus Pauling Institute. 2014
- Mindell, E., Tudo sobre as vitaminas. Plátano. 1991 pags 67-68
- Regulamento (UE) N.º 432/2012 da Comissão, de 16 de Maio de 2012
- Le Grusse, J.; Watier, B., Les vitamines – Données Biochimiques, nutritionneles et cliniques. Centre D'Etude et D'Information sur les Vitamines.1993. pags 101-119
- Gerald F. Combs, Jr. The Vitamins Fundamental aspects in nutrition and health. Third edition. Elsevier AP. 2008
- http://umm.edu/health/medical/altmed/supplement/vitamin-k - University of Maryland Medical Center. 2013
- Bauer, K. A., Reversal of antithrombotic agents. J. Hematol. 87:S119–S126, 2012.
- Ansell J, Hirsh J, Hylek E, et al. Pharmacology and management of the vitamin K antagonists: American College of Chest Physicians evidence-based clinical practice guidelines (8th edition). Chest 2008;133:160S–198S.